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Quintal da Infância

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São doces as lembranças que tenho da infância no quintal da minha primeira casa. Aberto e largo, ele seguia por toda lateral da casa, enfeitado por duas arvores de Leiteiro-roxo. As copas, de um tom vinho forte, davam ótimas sombras em tardes ensolaradas do dia-a-dia ou de festas. Do chão de terra até chegar a ser concretado, muita história o cercou, isso porque os protagonistas que habitavam esse cenário davam vida a ele de diferentes formas. O terreno abrigava 3 casas, na parte da frente moravam eu, meus pais e meus irmãos, na parte de cima, minha avó e meus dois tios mais novos, e na parte de trás moraram ao longo dos anos vários tios e tias, alguns por parte de pai outros por parte de mãe. Sendo assim, sempre tive muitos primos e primas para dividir as tardes e alimentar a imaginação.   Tudo podia virar uma brincadeira ali, uma poça d’agua era um lago para as formigas, as folhas de leiteiro-roxo plantas venosas a se evitar, e não faltava espaço para brincadeiras de correr

Janela Interna

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Flutuava no espaço como que pendurada por linhas invisíveis. O céu de um vermelho carmim refletia nas nuvens cinzas, tingindo-as em matizes imprecisas. Ele tinha a cabeça virada para o alto, como se observasse a janela suspensa, mas seus olhos estavam fechados, seus olhos nem existiam de fato. Todavia, a janela não estava no céu externo, habitava dentro dele, suspendia seus pensamentos e desejos, costurava seus medos, escondia suas verdades. Estendeu o braço, tentando alcançar a grande janela, agarrou-se às nuvens rasgando o céu. Repetiu o gesto, agora com a mão esquerda, impulsionando seu corpo e se prendendo as paredes celestes, seu peso fez uma nova fenda no espaço e delas, brotaram linhas negras, agarrando seus braços em um nó forte e rígido. Agora não podia continuar sua escalada e nem voltar atrás. Corvos sobrevoavam sua cabeça, e rápidos, se postaram acima da janela, olhando fixamente para o sol poente. O tempo corria devagar. Um líquido viscoso amarronzado começou a esc

Os Sete Gêmeos Regentes e a Queda do Reino das Virtudes.

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“Fizemos um trato, ele deveria enviar suas sete virtudes cardeais, enquanto que eu deveria apenas fazer os sete pecados, (que já estavam lá, livres, leves, soltos e sempre se multiplicando), atrapalharem ao máximo os bem feitores divinos. Nunca fui de recusar desafios. O que eu tinha a perder afinal?” Seus membros largos, duros como aço e quentes como lava a ajudavam a rastejar pelo chão de pedra imundo. Levantou-se usando suas ultimas forças, seu Vazio consumia todos os seus sentimentos e ela não conseguia ao menos chorar. Uma pequena explosão e uma falsa pista foram tudo que a sorte ou destino trouxeram para que a multidão as perdesse de vista. Somente a dor física a lastimava como raios finos penetrando dilacerantes em diversos pontos do seu corpo, mas sem hesitar se levantou, acomodando seu ultimo laço sanguíneo nas costas. Oferecia aquela dor como homenagem a seus irmãos, que agora já deviam estar livres. Totalmente livres da dor. Tentavam fugir do grande grupo que clamav

Para Nunca dizer Adeus.

“Que bom que chegou, já estava cansado de te esperar” “Desculpe a demora, essa chuva atrapalhou tudo!” “É então, imagina esperar nesse frio e com essa chuva!” “Eu sei... eu sei...” “Mas, e ai tudo bem?” “Sim, tudo ótimo... sabe que dia é hoje?” “Não, qual? O dia da festa?” “Não, hoje é sábado de aleluia...” “uhum...legal...” “Puff... dia em que Jesus ressuscitou...”  “Tanto faz, não sou católico, ta esperando por outro milagre hoje?” Os dois amigos riram... “Sabe... até estou, mas também não sou católico...” Após dizer isso, ele ficou imaginando como um milagre poderia mudar as próximas duas horas da sua vida, quem sabe, mudar o resto da sua vida. “Não, não vai acontecer. Vou tentar agir normalmente...” “Cara, não sei porque você continua com isso, parece que gosta de sofrer!” Um sorriso brotou no rosto deprimido do amigo. Sem alegria “É, as vezes eu acho que é só por isso que eu continuo sentido certas coisas, sabe? Apenas pela dor. É como se eu fosse viciado. É co

A Incrível História do segredo da vida e o homem que amava de mais

Então Abayomi jogou a pá para o lado. Desembainhou sua espada de diamante e se preparou para o ultimo ato de coragem. __ Você sabe que isso pode matar nós dois e mesmo assim ninguém será salvo, Abayomi? __ Zera, esta é a minha unica escolha, não tentar seria a minha morte e o fim de tudo do mesmo jeito. Fincou a espada no circulo negro que encontrou no chão. A luz brilhou em sua pele negra. Vento, calor e paz. Beijou Zera e acariciou sua barriga. Desejou com todas as forças que seu sacrifício salvasse a todos. _________________________________________________________________ Uma tentativa de conto que não explique nada.

O Negro na Literatura Brasileira - Clóvis Moura

Nos últimos anos passei a repensar minha produção buscando levar para ela a cultura afro-brasileira e a representação do negro, na arte, na literatura e no design. Tanto por minha descendência com por minha admiração pela cultura. Não posso negar de me impor como um afro-descendente em minha produção cultural, pois o mundo não se nega de me fechar portas justamente por essa descendência. Percebi que fui negligente com minha cultura na minha produção quando ainda jovem, pesquisando e querendo criar histórias voltadas a mitologia grega e nórdica e sem conhecer a mitologia africana. Isso se deu pois nunca me foi apresentado esse mundo, ao contrário a mitologia grega é sempre vangloriada e difundida por todos os meios de comunicação de massa, enquanto a do negro é sempre renegada, taxada de uma cultura malévola, voltada ao diabo e ao inferno. algo sujo e vil. Um texto que faz uma análise sobre o negro na literatura é o de Clóvis Moura, que reproduzo a seguir: O Negro na Literatura b

Pequenas Colocações

Saber onde se pisa é sempre bom. Eu diria que é ótimo. Nunca se sabe que armadilhas podem se encontrar abaixo de nossos pés. Outro ponto importante em saber onde se pisa é, sem duvida, poder decidir para onde se ir em seguida. Esta é minha analogia básica para percursos de desenvolvimento. (não só minha imagino) Quando eu comecei a ler, pouco me importava títulos e rótulos. Lembro de passar por “As Brumas de Avalon”, “O Hobbit”, “Apanhador no Campo de Centeio”, “Senhor das Moscas”, “Admirável Mundo Novo”, “Não veras Pais Nenhum”, “Cem Anos de Solidão” e “Jangada de Pedra”, “O Perfume”, entre muitos outros. Sem nunca criar barreiras delimitadoras, ou eleger compartimentos para separar em categorias. Talvez minha única divisão seja. “estes aqui ficam na minha estante de preferidos”, e os que não me chamavam muito atenção voltavam para seus lugares de origem, (muitos deles as estantes de meus pais).  Comecei a buscar limites, e querer me adequar a rótulos somente depois de