Quintal da Infância



São doces as lembranças que tenho da infância no quintal da minha primeira casa. Aberto e largo, ele seguia por toda lateral da casa, enfeitado por duas arvores de Leiteiro-roxo. As copas, de um tom vinho forte, davam ótimas sombras em tardes ensolaradas do dia-a-dia ou de festas.
Do chão de terra até chegar a ser concretado, muita história o cercou, isso porque os protagonistas que habitavam esse cenário davam vida a ele de diferentes formas. O terreno abrigava 3 casas, na parte da frente moravam eu, meus pais e meus irmãos, na parte de cima, minha avó e meus dois tios mais novos, e na parte de trás moraram ao longo dos anos vários tios e tias, alguns por parte de pai outros por parte de mãe.
Sendo assim, sempre tive muitos primos e primas para dividir as tardes e alimentar a imaginação.  Tudo podia virar uma brincadeira ali, uma poça d’agua era um lago para as formigas, as folhas de leiteiro-roxo plantas venosas a se evitar, e não faltava espaço para brincadeiras de correr e se esconder.
Os melhores dias eram os de sol, e lembro uma época em que o quintal servia para campeonatos de corrida de barris. Um dos meus tios, o empreendedor da família, tentou ter uma loja de produtos de limpeza que no final não deu certo. Mas sobraram dessa loja quatro grandes barris de plástico, uns pretos outros azuis. Eu e meus primos usávamos esses barris para descer rolando o quintal, que tinha uma leve inclinação do portão até a casa dos fundos. Ficávamos o dia revezando entre os barris, que eram nossos carros, limpando-os, enfeitando-os e descendo com eles rolando. Lógico que minha avó e minha mãe não gostavam muito da ideia, pensando nas diversas formas que podíamos nos machucar. Porém para mim, o único medo surgia quando o barriu rolava para o canto e a boca ficava tampada por umas das paredes do quintal. Rapidamente a euforia da descida se transformava em pânico de ficar preso no barril, mas no final sempre algum primo ajudava a desenganchar o barriu e você era libertado, a não ser que quisessem te zoar, então seguravam o barril contra a parede, só pela diversão de ver alguém gritando a plenos pulmões, e era nessa hora que minha vó vinha acabar com a brincadeira.
Os dias de chuva também eram ótimos, lembro de vários banhos que tomávamos correndo pelo quintal. As mais marcantes foram com uma piscina de plástico azul claro, montada sobre um tapete, e eu e meus primos pulando, gritando e não se importando nem um pouco com os pingos frios caindo sobre a gente.
Aos poucos, meus tios e tias que passavam por lá, iam se mudando, o quintal era uma solução temporária para família, que ia seguindo seu rumo. Era triste ver meus melhores amigos partindo de tempos em tempos.
Uma das lembranças mais marcantes é de uma tarde nublada, em que acordei cedo, deveria ser fim de semana, e eu devia estar com 8, 9 anos. Meus tios por parte de pai tinham se mudado aquela semana, então a casa dos fundos estava completamente vazia.
Lembro de pegar minha garrafa pet, cheia de bolinhas de gude, jogar uma por uma no quintal vazio, e velas descerem até o fim, elas saltitavam por diferentes caminhos no chão de concreto todo rachado até baterem na mureta da varandinha da casa e voltarem. De alguma forma me sentia só, tão vazio quanta a casa ao fundo.  


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Texto de resgate de memória que seja nostálgico, ative algumas imagens, porém não muito descritivo.

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